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MOMENTOS NO INTERIOR DA TERRA – Rosalina Santos – 12 de janeiro a 25 de fevereiro de 2023

Inserida no Projeto Onda Bienal e com o apoio da Câmara Municipal de Gaia, esta mostra, patente no Gabinete da Bienal situado na Praceta Salvador Caetano/Avenida da República, em Vila Nova de Gaia, apresenta 15 trabalhos fotográficos sobre as minas de Freixo de Numão, em Vila Nova de Foz Côa, obtidos através de câmara de telemóvel e impressão digital sobre papel fotográfico.

A exposição poderá ser visitada até ao dia 25 de fevereiro de 2023, dentro do seguinte horário: de segunda a sexta-feira, das 10h às 13h e das 15h às 19h e aos sábados, das 10h às 13h.

Rosalina Santos natural de Matosinhos, reside em Vila Nova de Gaia. Fotografa desde que se lembra. Como qualquer pessoa, inicialmente fazia fotografias de família, viagens, etc. Com o advento da fotografia digital, intensifica esta paixão e sempre que pode dispara a tudo o que mexe ou ao que está quieto. Agora com mais experiência, gosta especialmente de registar a intervenção humana no mundo. Seja pela arquitetura, paisagem humana ou arte. Não tem formação na arte fotográfica, nunca quis. Quer manter-se como é, mostrar a sua visão limpa de artifícios ou técnicas mais ou menos intrusivas. A sua ferramenta é a câmara do telemóvel. Sem complexos. A sua galeria preferencial é o Facebook. Aí expõe o seu trabalho principalmente as suas visitas às exposições de arte que partilha, com o maior prazer. Já participou em várias exposições coletivas, por exemplo, Artistas de Gaia, Cooperativa Árvore, Fundação PT, Galeria Almad’arte e artista convidada na Bienal Internacional de Arte de Gaia.

Foi mesmo por acaso. Estávamos em 2018.

O meu amigo António, entusiasmado e orgulhoso pelo seu mais recente projeto de gestor da MINAPORT insistiu para fazermos uma visita à exploração aurífera de Freixo de Numão em Vila Nova de Foz Côa. Pensei que seria uma experiência interessante e concordei, embora com algumas reservas pois sabia que as minas de ouro eram sujas e poluentes.

Nesse fim de semana avançamos para a viagem. A paisagem do Douro é sempre fascinante e podemos perceber a geografia única e milenar moldada pela erosão do tempo em vales e montes que se sucedem, comprimem e entrelaçam.

Chegamos, a primeira impressão foi boa. Não parecia haver demasiada descaracterização da paisagem. Embora as instalações fossem ainda provisórias pois a mina estava na fase de prospeção, podia sentir-se que havia cuidado na instalação de equipamentos em plataformas sólidas e contentores onde estavam os serviços o laboratório e área social. Um grande penedo à entrada, como um marco, recebera o nome da mina em letras gravadas na pedra. Ainda bem que não era um vulgar cartaz, não iria enferrujar com o tempo. Fiquei a saber que aqui não se usava mercúrio nem químicos. O minério era retirado da montanha, triturado e pulverizado, sendo depois separado por decantação de acordo com a densidade de cada mineral. É um método ecológico e uma tecnologia com origem na América do Sul de onde vieram especialistas para a implementar. É o laboratório que determina passo a passo o processo industrial.

Iniciamos a visita entrando pela montanha adentro. Fiquei surpresa, não era escuro e sujo. Não eram túneis, mas sim um emaranhado de grandes galerias sempre com 3 metros de altura e vários de largura. Parecia um centro comercial, com segurança, ventilação e luzes elétricas que se ligavam conforme avançávamos, tal como nas áreas comuns de um condomínio. Os engenheiros e técnicos iam mostrando e explicando o processo e o que víamos. Filões brilhantes subiam as paredes atravessavam o teto e desciam pelo outro lado. Uma variedade de formas e de cores que sempre lá estiveram, mas que agora após a intervenção humana podíamos ver. Dei por mim a ficar para trás e a tentar registar cada detalhe da rocha, cada fissura cada forma que variava com o flash do telemóvel, a luz do capacete e das lanternas ou da iluminação auxiliar tal como uma instalação multimédia. As formas deixadas para trás pelas escavadoras e martelos pneumáticos eram cicatrizes na montanha e ao mesmo tempo esculturas fractais gravadas na rocha. As cores, as sombras, a luz e a sua ausência, variavam de forma quase viva conforme o ângulo em que olhávamos e a forma como a luz incidia, verdadeiros quadros pintados pelo efeito geológico natural e emoldurados pela ação do mineiro. Não estava preparada, o meu telemóvel começou a acusar pouca bateria, angustiada comecei a apressar-me como se estivesse numa galeria de arte perto da hora de fecho e receando não conseguir ver tudo. Para o Jorge, meu marido, foi uma visita técnica e científica. Para mim foi uma visita a uma galeria de arte com obras sem fim de uma autora bem conhecida, a Mãe Natureza.

As fotos que apresento agora, são uma seleção das tiradas nesse dia, diretas sem tratamento e pretendem transmitir o que senti quando as fiz e também o que descobri mais tarde quando as revi melhor.

Agradeço ao Agostinho Santos que sempre me incentiva e me “obrigou” a fazer esta minha primeira exposição individual para mostrar este trabalho.

Espero que gostem.

É e será sempre o meu maior prazer partilhar as coisas que vejo, sinto e gosto.

Maria Rosalina Santos

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